Trocas de mensagens de há poucos meses - Euzinha: O convite é mesmo só para tomar uns copos e bater um papo, no Procópio ou na minha casa. ‘Só? Não vá o velho entusiasmar-se?’...Quando quero engatar um homem há 40 anos que o digo abertamente…
Fez-me lembrar esta história. Set. 1986, o Zé Pinto Ribeiro veio jantar ao meu restaurante na Praça das Flores com um amigo ‘americano’. Que corrige: israelita, vivo em N.York. Quando saíram, telefonei: ‘Quem é?’ ‘Amigo do meu pai de há muitos anos. Se acha graça, só cá fica 2 dias. Está no Ritz.’ Uma da manhã: atendeu logo. Ao fim de uma hora ‘também te quero ver’. As minhas únicas horas livres no sábado: antes do meio-dia, entre as 15-19h e depois da meia-noite. Logo pequeno-almoço no hotel com vista para a varanda e o jardim. Uma roda viva de empregados. De chofre: casado, dois filhos adultos, o ano inteiro em viagem pelo mundo a comprar cerâmicas para Bloomingdale’s, Saks. ‘Consegues guardar segredos? Ninguém pode saber isto porque pode afectar muito os meus negócios’. 10 anos antes diagnosticado com esclerose múltipla amniótica, por isso andar sempre com a bola de borracha na mão; o medicamento à base de morfina controla as dores. ‘Sabes quem é o Stephen Hawking? É isso. Mas tenho enganado a ELA: ainda não ando de cadeira de rodas. E os médicos dizem que o exercício físico faz bem. Vens à noite?’.
Nem fechei a caixa do restaurante. À meia noite no bar do hotel. Quando te vais embora? No aeroporto às 11h. No quarto champanhe (Não gosto!) e morangos com chantilly (Ah és gulosa). ‘Já tinhas estado com um homem circuncisado?’.
Foi uma madrugada de exploração mútua. De um prazer brincalhão. Sem pressas. Ver o nascer do dia com vista para o Parque Eduardo VII. Quando eu estava a tomar duche, tu sentado sério na casa de banho. Tudo bem? ‘Estou a memorizar-te. Cada centímetro.’ Risos, muitas dobrinhas.
Pequeno-almoço na varanda do quarto. Quando descemos de malas, táxi para o aeroporto. O porteiro a fingir que não via o beijo demorado, mas sorriu quando me viu atravessar a rua para entrar em casa, no 105 da Rodrigo da Fonseca.
Aos 36 anos essas fotografias marcam o início da relação aberta de mais anos que consegui manter. As legendas escritas atrás nessa letra que aprendi a gostar.