Ontem ao ouvir Tiago Rodrigues na televisão dei-me conta que quem nasceu depois do 25 de Abril pode saber a história dos 48 anos de ditadura em Portugal, sem conseguir entender o que é viver com restrições à Liberdade. Fiquei chocada com a surpresa de a Carmen Dolores ter afirmado que só ficou a saber as razões para terem sido feito cortes nas peças de teatro depois de os arquivos da censura terem sido tornados públicos. Cortes muito mais moralistas que de índole política.
Este blogue tem sido uma surpresa. Para quem me conhece bem. Para quem me conhece há muitos anos, tanto pessoal como profissionalmente. Para quem começou agora a segui-lo. Até para mim.
Aos 50 anos decidi que ia regressar a Portugal para estar mais perto da família. No Brasil consegui fazer as pazes comigo própria ao enfrentar algumas verdades sobre a minha vida. Nos últimos 15 anos percorri o caminho do perdão ao mesmo tempo que tentei encontrar uma forma de quebrar o silêncio sobre incesto e comportamentos abusivos. Pedi conselhos sobre como fundar uma ONG ao Fred Fezas Vital de ‘A Terra dos Sonhos’, como pesquisar a dimensão dessa realidade no âmbito familiar ao António Barreto, sobre o desafio de abordar temas autobiográficos a Maria Filomena Mónica, como buscar apoios financeiros junto da Childhood Foundation (criada pela Rainha Silvia da Suécia e que tem como missão: estimular, promover e desenvolver ambientes de apoio e soluções para prevenir e enfrentar o abuso e a exploração sexual). ‘Como sabe tanto sobre o problema?’ Por experiência pessoal. Recebi muita empatia. Também respeitei os pedidos de ‘Agora não’, por causa do impacto que poderia ter na vida de pessoas queridas.
Em 2017 conheci a ‘Escola do Amor’ da Tamera no Alentejo. E descobri que o caminho teria de ser o AMOR. Ao fazer 70 anos decidi dar a cara. Com o confinamento em 2020 passei a ter tempo para estruturar melhor o projecto. Recebi apoio de quem tem experiência tanto em processos de abuso sexual de menores como em novas tecnologias. Tentei fundar uma ONG. Em Dezembro consegui um financiamento bancário e decidi avançar sozinha. Com o suporte da Dream Team que ajuda na realização dos vídeos. Com a redução drástica no trabalho de Coaching, Formação e Consultoria tenho-me dedicado de alma e coração ao PORAMOR.EU.
Porquê a necessidade de ser explícita nos factos e nas pessoas? Há o risco de pessoas sentirem que estás a ultrapassar barreiras de intimidade. A família e amigos mais chegados conhecem todos estes casos. Pessoas que seguem o blogue vivenciaram essas situações e podem validar a veracidade dos factos. Claro que é a minha história, a forma como me lembro.Só quero e posso falar sobre a minha vivência.
Libertina ou Livre? Exibicionista ou Extrovertida? Há uns anos desagradou-me reconhecer que fui promíscua. A instabilidade que posso ter provocado em nome duma liberdade sexual que se tornou exuberante com a minha vivência. Por perfil pessoal sou sociável e calorosa; pela experiência profissional aumentei a capacidade de ser expansiva e comunicativa.
Ao ter escolhido este caminho tinha plena consciência que ia gerar reacções negativas de pessoas queridas. Ainda mais importante o facto de ter tido apoio somente para estruturar a ideia inicial e de ter decidido avançar sozinha.
A boa surpresa têm sido os comentários positivos da família mais afastada e de amigos com quem perdi contacto há anos. Assim como de conhecidos virtuais que têm trazido outras pessoas. Coragem? Pulsão pela Verdade. A minha ferida está cicatrizada. O saber que estas partilhas estão a ajudar algumas pessoas é motivador para continuar.