A vida. Com que palavras a dizes ou a negas?
Com que palavras te entregas?
Nasceste do ovo azul da linguagem,
essa que te beijou a pele e beijará teus olhos.
*
A tua voz é a voz das palavras.
Mas já foi a voz dos frutos e do chão.
Das espigas e das rosas. A que um dia poisou na fala
e se derrama agora na solidão da página.
*
A vida continua a torturar-te com palavras
acendendo fogueiras, encenando novos
autos de fé, finos rastos de fria dignidade.
*
É feito de pedacinhos de sílabas o teu rosto.
São restos de poemas, dor que ainda sorri
à luz que acena dentro dos abraços.