Quando a Avó enviuvou, resolveu alugar um apartamento em Lisboa para viver em liberdade, o que na Madeira era mais complicado. Vinha na primavera ou no outono e eu adorava ficar a fazer-lhe companhia. Uma vez no Rossio ‘Nunca vi tantas pombas se levantarem ao mesmo tempo!”. Com 14 anos só desatei a rir depois de verificar que mais ninguém no autocarro tinha reagido - na Madeira ‘pomba’ é o sexo do homem…
Foi a 1ª mulher que conheci independente financeiramente, bem resolvida e a falar sobre sexo abertamente. Divertia-se a pôr na minha cama 1 banana e 2 maçãs, 1 cenoura e 2 tomates. Eu fingia surpresa ‘É para te ires habituando com o que é bom!’. Ria-se muito com a história do Avô vir almoçar a casa e ficar dengosa na porta a despedir-se. O senhor nem ia trabalhar. Já tinham 5 filhos.
Em 1975 a Avó seguia com muita atenção na televisão os novos programas dedicados às mulheres. “O que é orgasmo? Ah, é vir-se?” A senhora desconhecia a palavra. “Basta que sim. E onde é que está o problema? Credo, porque gastam tanto tempo a falar disso?”.
Devo sair a esta querida Avó. Adoro ser mulher. Aos 18 anos tive a sorte do parceiro com mais 30 anos ter-me ensinado, na prática, tudo sobre sexo.
No meu tempo as raparigas dividiam-se entre ‘as para casar’ e ‘as que davam’. Entre as que se guardavam e as que eram praticantes. Mãe solteira aos 20 anos ficava logo classificada.
Tinha 21 anos quando uma amiga de 18 anos recém-casada me veio pedir conselhos. Tão inexperiente como o marido, de 20, nem conseguiam explicar onde estava o problema e pediram-me para observar. Sentada ao pé da cama, nem queria acreditar: menos de 5 minutos e pronto. Tive de ir ao B, A, Bá. Todos os preliminares, ensiná-lo a aguentar, etc.
Longe de mim ser sexóloga. Sou uma curiosa, com mais de 50 anos de experiência prática. O facto de só ter sido casada uma vez e ter tido vários parceiros também ajuda.
Todos somos diferentes uns dos outros. Cada novo parceiro tem algo que eu posso aprender. Sempre gostei de descobrir como dar mais prazer à outra pessoa. E de mostrar claramente do que gosto e como. Creio que a comunicação aberta é crucial para viver uma sexualidade plena.
Há pouco tempo fiquei surpreendida por me dizerem que os homens falam pouco sobre sexo; quase só ‘ando com fulana’, ‘é bom ou nada de especial’. E que as mulheres contam todos os detalhes umas às outras.
Decididamente sou uma mulher fora do normal. Os homens sempre falaram comigo abertamente sobre sexo. Será que sou eu que motivo esse diálogo? O certo é que amigos vêm pedir conselhos, falar sobre problemas que têm com as mulheres ou parceiras actuais, partilhar ideias, etc.
Fico abismada quando escuto que dormir com a mulher, ao fim duns anos, é como estar com uma irmã e, por isso, procuram prazer fora. Digo logo que espero que as respectivas procurem também prazer fora, de preferência com um amigo.
Fico espantada também quando escuto que depois dos 50 é normal perder tesão. Pois parece que a diferença física entre os homens e as mulheres se acentua nessa altura. Li que depois da menopausa nós podemos ter os melhores orgasmos da vida porque os neuro-transmissores deixam de estar focados na reprodução e ficam focados no prazer. Há muitos anos na Madeira ouvi o pai dum amigo dizer ‘Enquanto tiver uma língua e dedos na mão vou sempre fazer mulheres felizes’.
Fico estupefacta quando amigas com mais de 40 anos acham normal relações onde se instala a rotina. Em que deixa de haver cumplicidade e ternura: onde predomina a falta de abraços, de beijos, de partilha de momentos eróticos juntos. E gosto do ar admirado quando insisto na importância de descobrir outra sexualidade, mais focada na sensualidade e na ligação com o outro do que no acto puramente físico.
No blog tem havido pedidos para ser mais explícita neste assunto. O que tenho todo o prazer em abordar. Terá de ser em espaço mais privado.