Onde estava no 25 de Abril? O meu de 1974 foi mal celebrado.
O de 1975 foi a minha grande festa. De Muita Liberdade. E de Muito Amor.
Imaginam com 24 anos sair da vida privilegiada que tinha na Madeira, a trabalhar na empresa da família, com apartamento sempre cheio de amigos e amores queridos e fugir para Lisboa para vir viver o 25 de Abril? Em 1969 já tinha participado na campanha das pseudo-eleições livres. Os que conhecia da CEUD estavam no PS, onde comecei a trabalhar por um mínimo e a dar o máximo. Como secretária ajudei a organizar o 1º congresso nacional.
Vida amorosa bem livre. Um ‘companheiro’ mais velho. Um ‘militante’ mais novo por quem estava apaixonada. Amigos coloridos.
Nos anos 60 tinha tomado a decisão: entre viver submissa o que tinham desenhado para o meu futuro, preferi descaradamente a liberdade que eu tinha sentido quando aos 16 anos estive na Suécia. Pouco tempo a acompanhar a cirurgia da minha Mãe a um aneurisma cerebral. Marcou-me para o resto da vida o vislumbrar a liberdade de expressão e a sexual.
Nos anos 70 dei vários saltos no escuro, apoiada na intuição que ia dar certo. Mãe solteira aos 20 anos. A viver na Madeira no 25 de Abril de 1974 fiquei frustrada por pouco ou nada se passar. No 1º de Maio ainda fui para a rua com o querido amigo e fotógrafo João Pestana. Conhecia bem demais a sociedade conservadora da ilha. Na família diziam que fazia falta na empresa. Literalmente fugi. Desmanchei o apartamento, fiz duas malas, deixei o resto no armazém da firma. Em Lisboa pedi à minha Mãe para ficar com a minha filha uns dias. Achou que eu ia de férias? Com o pouco dinheiro que tinha dormi numa pensão manhosa, comia o que podia e andava desesperada à procura de trabalho. A 1ª vez que fiz uma dieta com prazer.
Foi um alívio começar a trabalhar no PS em S. Pedro de Alcântara. Da escolinha alemã no Funchal tive de pôr a minha filha na creche pública. E voltar a casa da minha Mãe.
Em 1975 saí para fundar a Frente Socialista Popular com muitos amigos mais à esquerda.
Celebrei o 25 de Abril de 1975 em grande festa. Eleições legislativas realmente livres em Portugal, as primeiras após a Revolução de 25 de abril de 1974. A enorme alegria das filas quilométricas para se votar. À noite chorei com os 91% de participação dos recenseados.
Festejei também os resultados. A maioria do PS (116 deputados), o PPD (81), o PCP (30). Sem surpresa a FSP nem um. Celebrei os três grandes líderes políticos: Mário Soares, Sá Carneiro e Álvaro Cunhal.
Em Julho de 1975 o convite. Amigos que tinham saído da FSP faziam parte do governo de Vasco Gonçalves. E lá fui trabalhar para a Praça do Comércio no gabinete do Secretário de Estado do Comércio Externo.
O Verão Quente de 1975 foi também um momento crucial na história da minha vida. Aluguei um estúdio em Cascais a meias com o meu futuro e ex-marido Luís Chaves da Costa. Onde passávamos os fins-de-semana. As costeletas de porco grelhadas na lareira faziam a delícia da minha filha Sofia. E o poder andar de bicicleta com rodinhas na praça do prédio, tranquila e sózinha. Enquanto nós fazíamos amor. Até nos chamar para ajudar a subir as escadas com a bicicleta.
Com a queda do governo a 19.Setembro de 1975 pediram-me para ficar para ‘passar as pastas’. Logo a seguir é formado o VI Governo provisório e o António Barreto manteve-me no gabinete. Entre o Terreiro do Paço e Cascais vivi o fim do PREC. Ainda com muita esperança e paixão. E muito amor. Um único e exclusivo, pela primeira vez.
Foi uma época muito intensa. E ficamos amigos para a vida!
Não me arrependo de nada, porque o que fizemos, bem ou mal, contribuiu para que o nosso país entrasse, finalmente, no século XX.