‘Estarão na andropausa?’ Foi o que pensei quando o João Tito de Morais, Xis Calheiros, Luis Penha e Costa e Carlos Barbosa vieram falar-me no projecto da revista Élan. O João: ‘Borges precisamos de ti para a publicidade!’. Euzinha?!? ‘Tem de ser uma mulher. Um homem, ia-se perder nos detalhes e no meio de tantas meninas. Mulher? Aí pensámos: a Borges ia achar graça!’. Na CEIG no Dafundo eram impressos os jornais Expresso, Correio da Manhã, A República, etc. e funcionavam as redações do Blitz e do AutoSport.
Claro que achei divertido. Acreditei tão pouco na ideia: ‘posso ajudar 3 horas por dia, das 15h às 18h’. Com o lançamento marcado para Dezembro, este folheto de publicidade foi enviado para agências e potenciais anunciantes. O querido jornalista Carlos Gil foi o autor da foto na capa.
Nos muitos telefonemas de prospecção, um empresário do Porto ‘Vou a Lisboa esta semana. Podemos ter reunião.’ Marcou 6ªf ao fim da tarde no bar dum hotel. Nem me desmanchei. Tive cuidado especial na produção: tailleur, blusa de seda e salto alto, bem maquilhada. Ainda hoje me lembro do ar espantado: muito diferente do que estava à espera, uns dez anos mais que ele.
A Real Companhia Velha foi o 1º contrato de publicidade que fechei. Acabámos por ir no meu carro jantar ao Clube Banana’s, ficou surpreendido quando assinei a conta. Fiquei amiga do Manuel José Silva Reis para a vida. Quase como uma irmã mais velha.
A festa de lançamento da revista no Banana´s foi muito concorrida. O Dieter Stürken tinha prometido que ia. A nossa história é divertida. Vivia ao pé do meu restaurante na Praça das Flores. Uma vez insistiu para ir jantar a sua casa, eisbein com chucrute. Era quase impossível recusar o convite daquele alemão alto, bonito, tão gentleman. No meu único dia de folga a lareira acesa soube muito bem naquela noite de frio e chuva. Desatei a rir com o sorriso de covinhas a olhar-me com ar ternurento. Quando foi à cozinha, eu adormeci no sofá da sala. ‘Ressonei?’ Andava numa roda-viva entre a revista, o restaurante, a família. Jantar na sua casa às 2as feiras passou a ser um hábito. Uma vez fiz mousse de chocolate e encontrei uma taça de vidro no armário da cozinha, bem lá em cima. Quando chegou ‘Ah que chique. Sobremesa no Lalique’. Calmo. Eu ia morrendo. Bem que tinha achado a taça muito bonita…
‘Então o teu amigo não veio?’ A festa da Élan a chegar ao fim quando entra de muletas, perna em gesso. Nas semanas seguintes fiquei na sua casa para ajudar. Um elevador faz falta nestas ocasiões.