Na vida tive uma paixão por uma Mulher. Hoje dia 20 de Agosto tenho de prestar homenagem à mulher que mais me ensinou sobre Amor e Sexo.
Posso ter ido para a cama com várias mulheres. Em ménage a três. Nunca senti tesão por nenhuma. Paixão só pela Mãe da minha Mãe: a Avó Bernarda, madeirense. Sempre esteve ao meu lado, com muito amor, com uma alegria contagiante, com conselhos de que ainda hoje lembro, nunca uma crítica ou julgamento. Uma grande companheira, apesar dos 61 anos de diferença. Com quem tenho muito prazer em ser parecida.
No Funchal com 5 filhos ficava encostada dengosa à porta de casa e o Avô nem ia trabalhar à tarde. Quando enviuvou com 68 anos andaram à procura de novo marido. Candidatos apresentados em casas de famílias amigas ou passavam de carro devagar em frente aos cafés no centro do Funchal. Ao fim de 6 meses “Vou ficar solteira, alugar uma casa em Lisboa e viajar para visitar a família que há pelo mundo”. Dizem que o Avô era ciumento e nas viagens pela Europa só levava as filhas. “Os que me agradam, gostam mais de carne fresca. Os que estão interessados em mim, é mais pelo dinheiro. E já estão a olhar para o chão”.
Alugaram um apartamento perto do Rato, para onde vinha na primavera e no outono. “Verão em Lisboa é muito quente e frio nem pensar”. Quando a tia Alzira ia a Londres, eu adorava fazer-lhe companhia. Uma vez no Rossio: “Nunca vi tantas pombas se levantarem ao mesmo tempo!” Com 14 anos só desatei a rir depois de verificar que mais ninguém no autocarro tinha reagido; na Madeira ‘pomba’ é o sexo do homem…
Os meus amigos adoravam a Avó. Íamos à boîte ‘Ad Lib’ e a senhora fazia questão de pagar a todos na mesa. Ficava muito atenta a tudo. Na cozinha “Sabes que a
maneira como um homem dança diz muito de como é na cama?” ‘Avó!!’ “E viste as mãos daquele? O pulso largo? É muito importante!”. E tinha razão.
Foi com quem fiz a primeira directa. “Imagina que a tua Mãe nos via agora?” Seis da manhã, as duas a entrar em casa depois da noite ter começado no Bairro Alto com sardinhas assadas e duas holandesas amigas da tia. Numa casa de fados encontrámos o advogado Adelino Palma Carlos e a mulher Elina (que só conhecíamos de ver na televisão). Só sei que fomos todos juntos ouvir mais fados em Alfama, nem sei em casa de quem, e acabámos a tomar cacau com pão quente no Mercado da Ribeira.
Em 1975 a Avó seguia com muita atenção na televisão os novos programas dedicados às mulheres. “O que é orgasmo?” A tia explicou, a senhora desconhecia a palavra. “Ah basta que sim. É vir-se! E onde é que está o problema? Credo, porque perdem tanto tempo a falar disso?”
No dia das Mães quando chegámos com uma rosa, a tia: “Foi ao Jardim das Amoreiras”. A minha filha Sofia, 5 anos, correu para ir buscá-la e daí a pouco aparece sózinha. “A Avó Bernarda já aí vem. Estava a falar com um senhor. E deu-lhe um beijinho!”. ‘Então Avó estava a namorar?’ Aos 86 anos, um pouco ofegante das escadas: “É um amigo, não é namorado! Vocês também têm amigos! Coloridos, não é?”