Nesse período na Madeira tive duas paixões. Primeiro, o João José Nepomuceno. Tudo bem, anos mais tarde fui apresentada à mulher e à filha. Tinha-o conhecido no verão de 72 quando eu estava a passar uns dias de férias em casa dos pais da São Pontes, minha grande amiga do tempo do ISLA em Lisboa. Ficaram com a minha filha Sofia (quase 2 anos) e saímos algumas vezes. O carro ficava na rampa ao lado da Romana para pegar bem.
Quando fui viver para a Madeira, gostava muito quando o Jacó vinha nas férias. Na Páscoa de 73 no Santa Luzia vinha almoçar e ficávamos juntos quando a Isabel levava a Sofia para a piscina. Saíamos à noite.
Sempre adorei os fins de semana no Belo Mar. Nunca gostei de ir ao Clube de Turismo nem ao Clube Naval. Os olhares críticos até de familiares. Peito a mais? Fato de banho ou biquíni a menos? Ali sentia-me bem-vinda. Um grupo de amigos tão querido. E um serviço impecável. Quantas vezes era a primeira pessoa a chegar às 10h, ficava deitada à sombra a recuperar da noite e algum empregado ficava atento à Sofia na piscina. A Isabel chegava mais tarde, depois de arrumar a casa. O Martinho e os outros amigos vinham ao meio-dia e ficávamos por ali, a combinar o programa da noite.
No Verão de 73 depois do jantar ia ter com o Jacó ao Red Lion. E íamos dançar às Vespas, à Romana, à boite do Sheraton antes de voltarmos para minha casa. Uma noite ele tinha outro programa. Com quem? Liguei ao Martinho e fomos sair. Às duas da manhã o encontro dos dois descapotáveis na Avenida do Infante. ‘Vem comigo!’. Mudei de carro. Algo quebrou nessa noite. Ciúmes? A relação era aberta.
Com 20 anos li os livros de Anaïs Nin que a tia Alzira tinha trazido de Londres. Fiquei totalmente fascinada pela escritora de literatura erótica feminina. E identifiquei-me totalmente com a Sabina de ‘A Spy in the house of love’. A mulher dividida em vários esboços, várias silhuetas. Que ultrapassa os seus limites quando consegue a metamorfose total: ser livre como um homem para poder sentir prazer sem amar.
A tia Alzira estava no Porto Santo com a minha filha Sofia e a Isabel. Eu estava sózinha no Funchal. Estava tão confusa com a minha reacção! Deixei de ter confiança? Sei que dias depois pedi ao Martinho para apresentar-me alguém novo. E fiquei fascinada por aquele jovem, tão triste por ter acabado com uma inglesa. Tão bonito e a precisar de colo. De cabelos compridos, parecia um dos Bee Gees. Levei-o a passar o fim de semana ao Porto Santo. Quando voltámos fiz questão de ir dançar ao Sheraton. Onde sabia que o João José ia estar. Acompanhado. Acabou com os dois aí. Tinha de sair por cima.
A segunda paixão, foi o Martinho. No Natal de 1983 reencontrámo-nos na Madeira. Eu tinha regressado de New York e ele tinha vindo de S. Paulo com a Regina, a sua mulher brasileira. À noite nas Vespas a surpresa ‘Sempre tive muitos ciúmes de você!’ Pensei com os meus botões: de mim? Há tantas mais pessoas, na Madeira, em Lisboa. ‘O Martinho fala tanto de você!’. Percebi: a amiga-irmã, tão colorida. O homem com quem foi sempre tão gostoso dormir de conchinha. A relação mais completa que tive.
Que merece uma publicação à parte.
BONS TEMPOS .............