A sedução, a intimidade e o sexo são três variáveis da mesma dinâmica. Gosto de todo o percurso. O primeiro cruzamento de olhar. Reparar em pequenos pormenores, a forma dos dedos, movimentos característicos, um sorriso com personalidade. A troca de olhares que sinaliza curiosidade. A conversa que divaga. O primeiro toque aparentemente fortuito. O segundo toque que demarca a intenção. Novas trocas de olhar com cumplicidade. O momento em que sabemos e antecipamos o inevitável. O primeiro beijo cuidadoso. As caricias tímidas. A intimidade crescente. A vaga de desejo mútuo. A aproximação dos corpos com movimentos bruscos. A roupa que desfolhamos devagar e depressa. O corpo que exploramos e beijamos. Sentir o cheiro e a textura. Percorrer a pele com a língua. Explorar as cavidades. Sentir o arfar do desejo. O orgasmo que se aproxima. Parar para recomeçar. Avançar até à vaga final. A respiração ofegante. Os gemidos. O corpo que se dobra. O cheiro de sexo e os corpos húmidos. A languidez que sobrevive.
É um percurso de intimidade e cumplicidade.
Aos dezoito anos já não podia esperar mais. No verão, a trabalhar na recepção de um hotel, sentava-me no bar ao fim do dia, a ouvir as aventuras sexuais do barman com as turistas nórdicas ocasionais. Um casal alemão de trinta e poucos anos numa mesa de canto com um estilo ainda muito de fim de anos oitenta. Ele rodeava a rapariga do bar com demarcada intenção. Ela sentada solitária, quase vaga. Ganhei coragem e sentei-me na sua mesa. Ele tinha proposto que nas férias poderiam ter as suas aventuras. Ele queria a rapariga do bar. Ela queria sobreviver a tudo isto. Fomos os quatro continuar a noite por uns copos a dentro. A rapariga do bar, como boa portuguesa, delimitou os avanços a uns beijinhos tímidos. Nessa noite a alemã veio dormir ao meu quarto. O desejo venceu o medo e dobrei o cabo do Adamastor. Eu e a alemã dormimos todas as noites. Ele bebia emburrado pela noite dentro. Quando as férias acabaram o regresso do casal era mudo. Nunca mais os vi.
A partir daí sabia o que queria e tinha consciência do que podia. Não era um mundo liberto, mas havia alguma liberdade. Tive sucessivamente namoradas e amantes. Oscilava entre o desejo de relações monogâmicas estáveis e a euforia da sedução e das amantes. Preferia relações sem compromissos, que me dava a possibilidade de procurar a mulher seguinte, melhor, idealizada.
Durante um ano M. e eu encontravam-nos à tarde para sexo descomprometido e divertido. M. tinha um noivo permanente já com destino definitivo. Eu escrevia-lhe postais anónimos com declarações de amor inocentes. No fim de semana o noivo jantava em casa dos pais de M. e todos discutiam quem seria este apaixonado desconhecido, talvez um rapaz que M. tinha visto no autocarro. No dia seguinte, entre os lençóis suados e cúmplices, discutíamos divertidos os comentários da família e do noivo. Eram dias desprendidos e livres.
E o sexo também vivia no mundo da fantasia e da experimentação. O desejo de dormir com duas mulheres. A curiosidade da orgia. A experimentação com vibradores e outros brinquedos. Em Nova York descobri a “Toys in Babeland” (1) onde os assistentes falam abertamente sobre diferentes brinquedos, funcionalidade e experiências próprias. Comprei o meu primeiro vibrador e o livro “The Good Vibrations Guide To Sex” (2), que é uma referência exaustiva sobre a experiência sexual e, que me abriu os horizontes a muitas opções que não tinha considerado. Mais tarde descobri a “Lelo” (3) com produtos de luxo extraordinários e textura maravilhosa. Recomendo o estimulador clitoriano “SONA 2 cruise” para uma experiência superlativa de orgasmo feminino.
Tentava relações monogâmicas, mas inevitavelmente dispersava-me com infidelidades. O desejo é forte e há sempre um jogo de equívocos que justificam as mentiras. Depois vem a culpa e as acusações. Era uma equação impossível entre o desejo e a honestidade.
Só anos mais tarde, quando li “The state of affairs” de Esther Perel, (4) compreendi definitivamente aquilo que intuitivamente sabia. A ideia de fidelidade como centro fundamental de uma relação é um preconceito romântico destruidor. Se muitas relações podem sobreviver centradas na monogamia e na fidelidade, para muitas outras é, na melhor as hipóteses apenas a ilusão da mentira. E demasiadas vezes é o centro de conflitos devastadores.
(continua)
TOBIAS
17/11/2021
(1) https://www.babeland.com
(2) The Good Vibrations Guide To Sex. Cathy Winks and Anne Semans.
(3) https://www.lelo.com e www.lelo.com/sona-2-cruise
(4) (In)Fidelidade. Repensar o Amor e as Relações. Esther Perel. Bertrand editora.