A pedido regresso ao blogue. A contar histórias. Bar de meninas. Anos 70 - 80.
Amigos dizem que gostam do que escrevo. E eu divirto-me com estas memórias.
Ontem com amigas portuguesas, de costela africana como eu, falámos sobre quando fomos a um bar de meninas. Rimos muito com a nossa surpresa. Ela contou da experiência em Luanda nos anos 70. Gostou do espectáculo de strip-tease feminino. Ao lado, o actual marido “Ficou desiludida por não ter visto os convites para o sexo, por ter visto pouco...”.
A minha 1ª ida a um bar de meninas foi no Funchal. Vivi na Madeira de 1972 a 1974. Com vinte e poucos anos tinha um grupo de amigos com quem saíamos todos os fins de semana. Dançar na Romana, nas Vespas, nas boites dos hotéis. Só dois casais casados, com crianças de 2-3 anos como a minha filha Sofia. Vários pares de namorados e outros madeirenses que andavam mais com estrangeiras. Por volta das duas da manhã eles iam pôr as mulheres e as namoradas a casa e voltavam para continuar na noitada.
A princípio pensei que elas tinham hora de voltar para casa, por causa dos pais. Como eu ia ficar com o namorado da altura, demorei a perceber que afinal eles iam acabar a noite no Safari, perto do Sheraton (agora Pestana Carlton). Foi a mulher dum deles, muito minha amiga que me disse. “É o normal, pelo menos não andam a arranjar sarilhos com miúdas mais novas. E chegam a casa mais calmos quando já lhes passou os copos”.
Tanto chateei que o Martinho uma noite levou-me ao Safari, já de madrugada. A Madame a rir “Já me tinham falado de si. É portuguesa, bem se vê que não é madeirense”. Fui recebida com todas as honras: depois do show, música já só de fundo, levou-me à parte de trás, passando as cortinas de veludo côr de vinho. Falei muito com as meninas, algumas estrangeiras. Acabei a tomar o pequeno almoço. Parecia a minha avó ‘Coma mais isto, prove aquilo’. Nos dias seguintes encontrei várias na rua. Que fingiam nem me reconhecer. Eu fazia questão ‘Olá’ um sorriso.
A outra vez foi em Lisboa, 1982. Na JWT dois ingleses da De Beers tinham vindo ao lançamento da campanha dos diamantes. O dia tinha começado mal. Ainda na agência, um deles aflito: com o pivot da frente na mão que tinha acabado de colocar em Londres. Como ia fazer a conferência de imprensa no Altis daí a pouco? Liguei à minha Mãe “Onde pôs agora os dentes abrem às 8h, certo? Pode avisar que estou a chegar com um caso muito, muito urgente?”. Um colega levou-nos até à Almirante Reis. Nem reparei no olhar incrédulo do técnico: “Pode resolver já, já o problema deste meu cliente inglês? Ele tem o pivot que caiu”. Sentada na recepção, comecei a rir. Eu estava toda aperaltada, vestido de seda, sapatos de salto alto. Para combinar com os brincos e os anéis de diamantes que me iam pôr para o encontro com a imprensa e os joalheiros. Bem que me olhavam de alto para baixo... Na Almirante Reis, cliente?! A essa hora era difícil estar ainda de cabelo arranjado e tão bem maquilhada...
Depois do jantar os meus colegas da agência que tinham vindo de Espanha há pouco tempo “Eles querem ir a um bar de meninas. Isabel, sabe onde podem ir?”. Lembrei-me do Elefante Branco na Luciano Cordeiro. Sabia de amigos meus, clientes assíduos. O mesmo táxi podia levá-los e depois deixar-me em casa. Fiquei curiosa. Aproveitei a oportunidade para ir ver como era. Eles divertidos com a cena. Lá só falamos em inglês, faz de conta que somos colegas, estamos em Lisboa em trabalho. Tranquilo, nenhum conhecido meu. Na mesa era evidente a insistência das duas meninas para as garrafas de whisky e de espumante, para comermos algo. Aproximou-se uma terceira que se sentou bem perto de mim. Muitas perguntas sobre a minha relação com os ‘colegas’. “Só de trabalho, nenhum é teu namorado?”, a mão na minha perna. Despedi-me dos ingleses. 3 da manhã. Tinha chegado o momento de regressar a casa. Sózinha.